Resiliência no trabalho: competência estratégica para ambientes corporativos em transformação
- Josiane Tonelotto 
- 26 de jun.
- 3 min de leitura

Vivemos tempos de intensas transformações no mundo do trabalho. As mudanças tecnológicas, a instabilidade econômica global, as guerras, as crises sanitárias e o crescimento das exigências por produtividade criam um cenário de incerteza e pressão constantes. Nesse contexto volátil, incerto, complexo e ambíguo, não basta contar apenas com competências técnicas. A sustentação da saúde mental, da motivação e da adaptabilidade torna-se essencial. A resiliência se revela como uma das competências-chave da contemporaneidade. Mais do que um traço de personalidade, a resiliência é hoje entendida como uma competência capaz de ser desenvolvida, o que permite ao indivíduo atravessar adversidades sem sucumbir, aprendendo e se transformando com elas.
Afinal o que é Resiliência? A origem do termo “resiliência” vem da física e designa a capacidade de um material retornar à sua forma original após sofrer pressão. Transposta para as ciências humanas, a resiliência passou a designar a capacidade de recuperação emocional e adaptativa diante das adversidades. Segundo a American Psychological Association (APA, 2014), resiliência é “o processo de adaptação diante de adversidades, traumas, tragédias, ameaças ou fontes significativas de estresse”. No campo organizacional, essa definição ganha contornos mais específicos. Ser resiliente no ambiente de trabalho significa conseguir manter-se produtivo e emocionalmente equilibrado, mesmo quando o ambiente organizacional impõe desafios ou passa por turbulências. Nesse sentido a resiliência deve ser compreendida como um processo dinâmico, não um atributo fixo, que envolve interações contínuas entre o sujeito, suas experiências passadas, recursos disponíveis e o ambiente. Trata-se, portanto, de uma competência que pode (e deve) ser estimulada e desenvolvida.
Por que a resiliência é tão importante no trabalho? A crescente complexidade do ambiente corporativo demanda profissionais capazes de lidar com pressão sem colapsar emocionalmente. A resiliência, nesse cenário, atua como uma barreira de proteção frente a situações que geram estresse, reduzindo o risco de esgotamento, adoecimento e consequentemente queda de produtividade.
De acordo com dados publicados pela International Stress Management Association Brasil (ISMA-BR) em 2023, cerca de 30% dos profissionais brasileiros apresentam sintomas de burnout.
Os dados corroboram os da pesquisa publicada em 2022 pela American Institute of Stress. Cerca de 83% dos trabalhadores americanos sofrem com estresse relacionado ao trabalho. Em ambos os casos, a presença de resiliência pessoal e organizacional figura como um fator moderador e protetivo desses efeitos negativos.
Outros estudos destacam que indivíduos resilientes apresentam maior estabilidade emocional, maior engajamento no trabalho e menor índice de absenteísmo. Além disso, pessoas resilientes tendem a ser mais coerentes, criativas e abertas à inovação. As conclusões apontam para a associação da resiliência com a capacidade de manter o propósito mesmo diante de frustrações, o que a torna um pilar de sustentabilidade psíquica no mundo do trabalho. Não se trata apenas de resistir ao sofrimento, mas de transformar a dor em aprendizado e seguir adiante com mais repertório e profundidade.
Alguns fatores são definitivos para o desenvolvimento da resiliência como competência para pessoas e equipes. Pode-se destacar que o apoio social e a manutenção de relacionamentos positivos provocam uma sensação de pertencimento e suporte mútuo entre colegas. O autoconhecimento e a capacidade de lidar com a próprias emoções e as dos outros contribuem para a autorregulação emocional.
Ambientes psicologicamente seguros facilitam o desenvolvimento da resiliência principalmente porque permitem que pessoas sintam que podem errar, questionar e aprender sem medo de retaliação.
Como visto até aqui, a cultura organizacional pode ser tanto um elemento catalisador quanto um bloqueador do desenvolvimento da resiliência. Ambientes tóxicos, autoritários ou hipervigilantes inibem essa capacidade. De outra forma, ambientes inclusivos e abertos à conversa a fortalecem. Apesar dessa constatação, ambientes protetivos e estimuladores não surgem do nada. É preciso investimento para criá-los e principalmente para mantê-los e para assegurar que a resiliência não seja vista como escudo para suportar abusos, mas uma forma de transformar sofrimento em potência.
A resiliência emerge assim, como uma necessidade ética, estratégica e humana para objetivos de bem estar nos tempos em que vivemos. Em um mundo corporativo cada vez mais marcado pela incerteza e pelo excesso, sobreviver psicologicamente torna-se um desafio cotidiano. É preciso preparar pessoas e organizações para responderem aos desafios com flexibilidade, criatividade e com saúde. Trata-se de uma competência coletiva, e não apenas individual, que deve ser cultivada por meio de políticas, práticas e posturas sustentáveis. A construção de ambientes profissionais mais resilientes não pode ser vista como uma questão de desempenho, mas de dignidade. E essa é, talvez, a lição mais importante que o mundo do trabalho precisa absorver atualmente.

